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Ilha do Pico: destino de todo o ano

 

A açorianidade, como definiu Vitorino Nemésio traduz-se na  “consciência de ilhéu. Em primeiro lugar o apego à terra, este amor elementar que não conhece razões, mas impulsos; e logo o sentimento de uma herança étnica que se relaciona intimamente com a grandeza do mar.”

E continua Nemésio é “uma espécie de embriaguez do isolamento, impregna a alma e os actos de todo o ilhéu, estrutura-lhe o espírito e procura uma fórmula quási religiosa de convívio com quem não teve a fortuna de nascer, como o logos, na água (...)". 1.)

É, nos momentos de grave instabilidade meteorológica, que os açorianos sentem na alma a dimensão limitada da ilha onde se abatem as intempéries, e a fúria do mar revolto, investindo contra as rochas negras, quebradas pelo tempo ruim.

Nesta “Ilha Maior, no sonho e na desgraça”, como diria o poeta Almeida Firmino, nos dias mais penosos, a “Montanha cobre-se de negro”, parafraseando Dias de Melo. No entanto, passada a borrasca, eis que surge esbelta e pura, vestida de branco, qual noiva cintilante em noite de núpcias.

É esta beleza inigualável que atrai os visitantes. No Pico, eles encontram uma diversidade de verdes: um mais escuro, nas faias e nos cedros do mato, outro mais claro nos incensos, nas urzes, na roca de velha, nas pastagens e nos pomares floridos, exalando perfumes agradabilíssimos que se expandem mar fora. Até os currais de vinha, agora cobertos de negro e de pedregulhos, dão cheiro à terra cujo negrume vai adoçar as uvas no Verão, para delas se extrair o afamado néctar.  

Não admira pois, que esta Ilha tenha uma procura crescente ao longo do ano, tantas são as potencialidades que oferece.

Nos tempos da minha juventude, as subidas à Montanha efectuavam-se, principalmente em meados de Agosto, de preferência na noite de 14 para 15. E poucos se atreviam a escalá-la noutras ocasiões.

Nos últimos anos, graças aos apoios dos Bombeiros e da protecção civil, as condições de segurança aumentaram muitíssimo, garantindo que as escaladas ocorram durante toda a época alta e também no Inverno.

Ainda há dias, um grupo de jovens equipados a preceito, aproveitou a neve e foi até à cratera da Montanha fazer esqui.

As imagens correram mundo e aliciaram muitos amantes deste desporto de inverno que se julgava não poder figurar nos roteiros turísticos açorianos.

Acontece, porém, que já há turistas estrangeiros que se deslocam a esta ilha para escalar a Montanha com neve.

Há dias, um taxista contou-me que, o ano passado, por esta altura, um visitante estrangeiro subiu a montanha sozinho, equipado com todos os equipamentos necessários a uma escalada em segurança. Ao descer, o homem, habituado a praticar montanhismo de inverno noutras partes do mundo, não se cansava de elogiar o percurso, prometendo voltar em época estival.

São estas características e diferenciações que definem o nosso produto turístico e o tornam atractivo para certos segmentos de visitantes. Todos eles reconhecem as nossas especificidades e potencialidades que traduzem o verdadeiro conceito de Açorianidade.

1.) V.Nemésio, revista INSULA, 1932

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